Conotação e Denotação

10/06/2011 14:51

                                                       Conotação e Denotação

 

         

                                1- Denotação e Conotação

    A significação das palavras não é fixa, nem estática. Por meio da imaginação criadora do homem, as palavras podem ter seu significado ampliado, deixando de representar apenas a ideia original (básica e objetiva). Assim, frequentemente remetem-nos a novos conceitos por meio de associações, dependendo de sua colocação numa determinada frase. Observe os seguintes exemplos:

 

A menina está com a cara toda pintada.
Aquele cara parece suspeito.

 

 

    No primeiro exemplo, a palavra cara significa "rosto", a parte que antecede a cabeça, conforme consta nos dicionários. Já no segundo exemplo, a mesma palavra cara teve seu significado ampliado e, por uma série de associações, entendemos que nesse caso significa "pessoa", "sujeito", "indivíduo".

    Algumas vezes, uma mesma frase pode apresentar duas (ou mais) possibilidades de interpretação. Veja:

 

Marcos quebrou a cara.

 

 

    Em seu sentido literal, impessoal, frio, entendemos que Marcos, por algum acidente, fraturou o rosto. Entretanto, podemos entender a mesma frase num sentido figurado, como "Marcos não se deu bem", tentou realizar alguma coisa e não conseguiu.

Pelos exemplos acima, percebe-se que uma mesma palavra pode apresentar mais de um significado, ocorrendo, basicamente, duas possibilidades:

    a) No primeiro exemplo, a palavra apresenta seu sentido original, impessoal, sem considerar o contexto, tal como aparece no dicionário. Nesse caso, prevalece o sentido denotativo - ou denotação - do signo linguístico.

    b) No segundo exemplo, a palavra aparece com outro significado, passível de interpretações diferentes, dependendo do contexto em que for empregada. Nesse caso, prevalece o sentido conotativo - ou conotação do signo linguístico.

        Obs.: a linguagem poética faz bastante uso do sentido conotativo das palavras, num trabalho contínuo de criar ou modificar o significado. Na linguagem cotidiana também é comum  a exploração do sentido conotativo, como consequência da nossa forte carga de afetividade e expressividade.

 

        2 - Figuras de Linguagem

São recursos que tornam as mensagens que emitimos mais expressivas. Subdividem-se em figuras de som, figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras de construção.

Classificação das Figuras de Linguagem

Observe:

1) Fernanda acordou às sete horas, Renata às nove horas, Paula às dez e meia.
2) "Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela."
3) Seus olhos eram luzes brilhantes.

 

Nos exemplos acima, temos três tipos distintos de figuras de linguagem:

Exemplo 1: há o uso de uma construção sintética ao deixar subentendido, na segunda e na terceira frase, um termo citado anteriormente - o verbo acordar. Repare que a segunda e a última frase do primeiro exemplo devem ser entendidas da seguinte forma: "Renata acordou às nove horas, Paula acordou às dez e meia. Dessa forma, temos uma figura de construção ou de sintaxe.

Exemplo 2: a ideia principal do ditado reside num jogo conceitual entre as palavras fecha e abre, que possuem significados opostos. Temos, assim, uma figura de pensamento.

Exemplo 3: a força expressiva da frase está na associação entre os elementos olhos e luzes brilhantes. Essa associação nos permite uma transferência de significados a ponto de usarmos "olhos" por "luzes brilhantes". Temos, então, uma figura de palavra.

Figura de Palavra

A figura de palavra consiste na substituição de uma palavra por outra, isto é, no emprego figurado, simbólico, seja por uma relação muito próxima (contiguidade), seja por uma associação, uma comparação, uma similaridade. Esses dois conceitos básicos - contiguidade e similaridade - permitem-nos reconhecer dois tipos de figuras de palavras: a metáfora e a metonímia.

Metáfora

A metáfora consiste em utilizar uma palavra ou uma expressão em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em virtude da circunstância de que o nosso espírito as associa e depreende entre elas certas semelhanças. É importante notar que a metáfora tem um caráter subjetivo e momentâneo; se a metáfora se cristalizar, deixará de ser metáfora e passará a ser catacrese (é o que ocorre, por exemplo, com "pé de alface", "perna da mesa", "braço da cadeira").

Obs.: toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.

Observe a gradação no processo metafórico abaixo:

Seus olhos são como luzes brilhantes.

 

O exemplo acima mostra uma comparação evidente, através do emprego da palavra como.

Observe agora:

Seus olhos são luzes brilhantes.

 

Nesse exemplo não há mais uma comparação (note a ausência da partícula comparativa), e sim um símile, ou seja, qualidade do que é semelhante.

Por fim, no exemplo:

As luzes brilhantes olhavam-me.

Há substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Essa  é a verdadeira metáfora.

Observe outros exemplos:

1) "Meu pensamento é um rio subterrâneo." (Fernando Pessoa)

Nesse caso, a metáfora é possível na medida em que o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.).

2) Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar algum.

Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na frase acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão que indica uma alma rústica e abandonada (e angustiadamente inútil), há uma comparação subentendida: Minha alma é tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma estrada de terra que leva a lugar algum.